A natureza de um Projeto Gaia

ARTIGO 6
A natureza de um Projeto Gaia
por John Croft
tradução de Roberta Thomaz Bruscagin

Introdução
Dragon Dreaming vive através dos projetos dos quais ele se compromete e apoia – se por alguma
razão o projeto for parar, Dragon Dreaming poderia de forma sensata parar também.

Mas o que constitui um projeto? Como os projetos começam e como você ou outras pessoas
poderiam se envolver em um Projeto Gaia Dragon Dreaming?

A palavra projeto literalmente significa “arremessar, projetar” – é um verbo e também pode ser
um substantivo. Dragon Dreamers são “ativistas” e os Projetos Gaia existem como “ações”, e
provavelmente tem mais em comum com o significado verbal da palavra “projeto” do que com o
significado substantivo (o que se tem a intenção de fazer) da palavra.

Você pode vir a nunca entender algo até que você tente muda-lo. À medida que você muda, você
se descobre. À medida que você muda o mundo você descobre o mundo. Seu projeto de vida é o
caminho no qual enquanto você está se transformando, você simultaneamente está transformando
o mundo.

Começa com a intenção. Para o Gaia Foundation da Austrália ocidental

“Nossa intenção é capacitar carinhosamente nós e os outros para conhecermos a unidade
com Gaia, a Terra viva, através de tomada de medidas corajosas e alegres, agora”.

Mas se um projeto Gaia tem esse sentido, o que é essa “ação” que é “arremessada” dessa forma?
Um projeto Gaia pode ser definido como

"Qualquer série de tarefas ou atividades, realizadas por qualquer pessoa, que ajuda a criar uma
visão ou alcançar uma meta para o futuro de acordo com seus objetivos."

O que é “arremessado” no projeto é a intenção dos iniciadores, ou a visão da diferença que o
projeto poderia causar, nas suas próprias vidas, e nas vidas dos outros que se envolvem.

Assim todos os Projetos Gaia começam como o sonho de uma pessoa, que tem como objetivo
fazer a diferença no mundo. Mas isso é provavelmente a verdade de qualquer projeto, bem como,
a natureza de um Projeto Gaia.

Para ser um Projeto Gaia, o projeto tem que atender a três objetivos simultaneamente –

• Primeiro ele tem que ser um projeto de crescimento pessoal, para as pessoas que estão e
estarão envolvidas. O projeto almeja ampliar nossas capacidades e nos permitir viver em
maior medida para além de nossos limites auto-impostos, fora de todo o potencial que temos
como seres humanos. Isso significa que o projeto tem que ter um compromisso com a sua
cura e o seu empoderamento de você e o das outras pessoas que se envolvem.

• Segundo ele tem que ser um projeto de construção comunitária – fortalecendo as
comunidades das quais você faz parte. Comunidade é um termo que frequentemente tem sido
usado com certo abuso em casos em que as comunidades não existem de fato. Nós olharemos
o verdadeiro significado da palavra “comunidade” posteriormente. Por agora vamos dizer que
comunidades das quais somos membros são sempre mais do que humanas.

• Terceiro, ele tem que ser um projeto à serviço da Terra – melhorando o bem-estar e a
prosperidade de toda a vida. A Terra dá tanto para nós que tendemos a considera-la como um
direito adquirido. Como Daniel Quinn sugere, nossa cultura é a cultura dos “Pegadores”, não
dos “Leavers” ou “Doadores”. Projetos Gaia objetivam reverter isso, para devolver a Terra
em gratidão pelo que a Terra tem nos dado.

Nesse sentido qualquer ação que encontre esses três objetivos, e age além da intenção de homens
e mulheres comuns, pode ser chamado de Projeto Gaia.

Os projetos podem ser de três tipos.

1. Primeiramente, há projetos que são realizados desde o início como “um projeto Gaia”.
Estes são projetos nos quais as pessoas podem iniciar, e que estão desde o início sendo
considerados por eles e pelos outros como “projetos” de Gaia. Eles podem se anunciar como
um "Projeto Gaia" para outras pessoas que estiveram envolvidas em atividades de projetos
Gaia no passado, e assim, podem recorrer a outros recursos de outros projetos ou recorrer a
outras pessoas envolvidas em outros projetos por sua vez.

2. Em Segundo lugar, há projetos que podem não começar como “um projeto Gaia”, mas
como projetos em que os Membros Gaia emprestam apoio pessoal de alguma forma,
como se fossem todos membros da mesma organização. Dessa maneira, o projeto pode ser
considerado por alguns membros que cumprem os objetivos da organização, embora em todos
os outros sentidos o projeto seja independente dessa organização. Em tais casos, às vezes, a
organização pode desejar o patrocínio ou tentar usar alguns dos recursos de outros Projetos
Gaia, para garantir seu sucesso.

3. Finalmente, há projetos que parecem não ter nada a ser feito com o processo Dragon
Dreaming. Eles podem ser iniciados por outras organizações, para seus próprios fins, e como
membro você decide dar suporte a este projeto como seu próprio projeto de crescimento
pessoal, construção comunitária e serviço à Terra. Nesses casos, cabe ao indivíduo envolvido
decidir se ele ou ela informa os outros membros do projeto que eles estão engajados em um
projeto Gaia pessoal.

Aqui estamos preocupados apenas com o primeiro tipo de Projeto Gaia, embora o que se segue
possa ser motivo de preocupação para os Membros Gaia e até mesmo para outras pessoas
envolvidas em outros tipos de projetos também.


COMO OS PROJETOS SE INICIAM

Todo projeto que já começou foi o resultado de um profundo encontro da comunidade,
um encontro entre um "eu" individual e o ambiente de seu "mundo", um mundo que é
considerado "não-eu" ou "outro". Esse encontro se é para ter sucesso requer uma contribuição,
um “input” de ambos os “eus” e o “mundo”. Ao mesmo tempo, se é para ser verdadeiramente
bem sucedido ele provoca uma mudança, ou um desenvolvimento do mundo, simultaneamente
produzindo uma mudança, ou uma educação, no e do individuo. Dessa forma “desenvolvimento
comunitário” e “auto-educação” são imagens espelhadas e opostas, um – “desenvolvimento”
sendo o que acontece no mundo como resultado de um projeto – e outro, “educação”, sendo o que
acontece ao individuo.

A natureza desse desenvolvimento é frequentemente mal compreendida. “Desenvolvimento” é
uma palavra mal empregada na linguagem moderna, como muitos “projetos de desenvolvimento”
que são na realidade nada menos do que formas de profunda destruição e danos – estragos em
um lugar, em uma comunidade e muitas vezes na própria natureza dos indivíduos que estão
envolvidos.

Na realidade, a fim de descobrir a verdadeira natureza do desenvolvimento nós precisamos
retornar para os verdadeiros significados da palavra. A palavra “desenvolvimento” é constituída
por três elementos

• des- = prefixo que significa “remover”, “libertar” ou “soltar
• envolve = do Latin volupe na queda de Roma, significando “aquelas coisas que nos
colocam pra baixo
• -mento = sufixo que significa “o processo de

Então desenvolvimento pode ser definido como “o processo que nos liberta dos fatores que nos
mantem pra baixo”. Desenvolvimento verdadeiro, por sua própria natureza envolve libertação e
liberdade, fatores que nós iremos voltar a considerar mais tarde.

Assim como nós não entendemos a natureza do desenvolvimento, nós também não entendemos
a natureza do processo de educação. As pessoas confundem educação com instrução, embora as
duas sejam a mesma.

Instrução do verbo instrúere que se formou do prefixo in- e do verbo strúere, no itálico
vinculado ao tema STREU, alargamento de grau zero da raiz indo-européia STER- cuja acepção
era a de “estender, espalhar”. Na língua de Cícero, strúere era entendido semanticamente
como “amontoar materiais, ajuntar”. É um processo baseado na premissa da ignorância de um
aprendiz e o conhecimento do instrutor, uma transferência de aprendizagem que também tem o
significado de “disciplinar, trazer sob controle, deliberadamente treinar ou acostumar”. Muitas
pessoas erroneamente acreditam que a educação termina quando a instrução formal também para.
Isto está longe da verdade. A educação é, sempre tem sido e sempre será, um processo vitalício,
desde o berço até o túmulo. A palavra educação vem de

• e-ducare = latim - verbo com sentido de “criar”. Etimologicamente significando “trazer à
luz a idéia”, ou ainda, “tirar o que está dentro”.
• -ção = sufixo significando “a ação de”

Educação, portanto, significa “ação de alcançar o potencial interior”, ao invés de ter algo
adicionado por meio da instrução ou do treino.

Nós precisamos reconhecer que a educação vem em três tipos distintos

1. Instrução formal – estruturada entre a pré-escola ou jardim de infância, primário,
secundário, terciário e sistemas educacionais profissionalizantes. Esse sistema de ensino é
pago por dinheiro publico ou privado arrecadado com o propósito de “educar”.

2. Educação informal ou eventual – estruturada através de noticias midiáticas e
documentaries, da aprendizagem no trabalho, e da aprendizagem que ocorre com a participação
no dia-a-dia da vi a social na comunidade.


3. Educação não-formal – é a educação que acontece pelo ato de engajamento, levando a
uma reflexão entre pensamento e ação e de volta ao pensamento, numa “práxis” reflexiva, um
processo chamado pelo educador brasileiro Paulo Freire de “conscientização”.

Um Projeto Gaia pode a partir deste ponto de vista, ser visto como um projeto de Educação Não-
Formal, embora ele possa ocorrer no contexto formal e informal.

O processo de educação e desenvolvimento sempre ocorre melhor em comunidades, que ao
mesmo tempo produz e é produzida por esses dois processos. A palavra comunidade é também
largamente usada e frequentemente mal utilizada, de maneira que tiraram da palavra muito
de seus significados. Os políticos em particular gostam dessa palavra. Hoje, o que é dito ser
comunidades não é, como eles são meras coleções acidentais de pessoas que têm algo em
comum, como se essa fosse a origem da palavra. Mas esta coletividade acidental não é realmente
uma comunidade.

Assim como desenvolvimento, comunidade é composta de três elementos –

• com- = sufixo Latim que significa “com”, “junto” ou “em conjunto”
• -muni- = novamente uma palavra antiga do Latim, vinda do Indo-Europeo, que
significa “um presente”, ou “uma ligação recíproca” ou “troca”
• - dade = do Latim –atis, que significa formar ou ter a qualidade de ou condição

Então comunidade pode ser definida como “aqueles com quem nós temos uma recíproca
doação de presentes”, ou “as ligações locais ou trocas que nos deixam juntos”. Uma verdadeira
comunidade é, por isso, caracterizada pela qualidade da comunicação dos seus membros. É
essa comunicação respeitosa, favorável e generosa – porque apenas quando a comunicação
tem estas qualidades nós podemos dizer que uma comunidade, na realidade, existe. Agora é
fácil ver porque temos tão poucas comunidades hoje em dia, ou porque as condições modernas
de anonimato, em que tudo é comprar ou vender, ao invés de ser presenteado ou doado, é tão
destrutiva para a comunidade.

Projetos Gaia são construídos ao redor desse conceito de “comunidade autêntica”. Qualquer um
envolvido num Projeto Gaia está envolvido em um profundo sentimento de presentear – para eles
mesmos; em sua própria educação e auto-desenvolvimento – uns aos outros; em construir uma
sensação de comunidade – e ao resto do mundo do qual eles fazem parte.

Assim essa primeira dimensão, do eu-outro, ou individuo-comunidade-ambiente, nos fornece
um modelo unidimensional de um projeto. Ele nos leva a considerar naturalmente uma segunda
dimensão de um projeto baseado na “conscientização” – o reflexo de pensamento-ação ou teoria-
prática.

Qualquer projeto baseado em ação, ou prática, sem levar em consideração “pensar sobre
o mundo”, é cego. Similarmente, aqueles projetos baseados exclusivamente e apenas no
pensamento ou na teoria, nunca levam a ação ou prática, são irrelevantes. Aqueles projetos que
são mais bem sucedidos, sempre são aqueles que chegam a uma melhor integração entre teoria e
prática.

Como antes, há uma série de trocas recíprocas entre o projeto e a teoria e a prática. Os indivíduos
sempre iniciam um projeto com uma compreensão teórica de como as palavras do mundo – uma
visão baseada no senso comum cultural que eles acumularam durante o curso de suas vidas. Esta
visão do senso comum do que é real é, entretanto, uma forma de delírio consensual. Outras
realidades são possíveis, de fato a realidade de qualquer um é uma construção pessoal – e duas
pessoas não vivem no “mesmo mundo” – assim como seu ponto de vista é feito a partir de sua
própria experiência. Algumas dessas experiências vem antes do nascimento, na natureza de sua
experiência no útero, outras vez da pré-infância, de sua família de origem, de experiências na
escola e com os colegas. Camada sobre camada é construída, e dessa forma nós eventualmente
construímos um modelo interior de como acreditamos que o mundo funciona. Neste modelo de
mundo nós implantamos uma “auto-imagem” – um modelo de nós mesmos. Isso compreende o
mundo que habitamos. Nossas ações são moldadas, não pelo que verdadeiramente acontecerá,
mas pelo que nós acreditamos que irá acontecer. Nossa “auto-imagem” também determina o que
nós acreditamos sermos capazes de fazer, de quem nós acreditamos sermos capazes de ser.
Estabelece um teto, contra o qual estamos continuamente nos medindo e nos limitando. Assim,
a "auto-imagem" de cada um de nós é construída a partir de um pré-julgamento, é literalmente
uma forma de "pré-julgamento". Na verdade, é a pior forma de preconceito, muito mais
prejudicial do que qualquer racismo ou sexismo. Ao contrário deste último, por conta do
preconceito que temos contra nós mesmos - é a única forma de preconceito da qual nunca
escapamos. Mas, o desenvolvimento, como vimos, promete libertação - e o Projeto Gaia oferece
uma forma de libertação.

Essa é a natureza essencial de um Projeto Gaia. Assim que alguém se engaja no projeto começa
a contribuir a partir de dentro da segurança de sua própria visão pré-existente de si e do mundo.
Mas o processo de envolvimento transformará ambas as visões. Ninguém que completa um
projeto é a mesma pessoa que era quando começou – uma transformação mensurável ocorreu.

Não é apenas uma transformação de pensamentos, ou das teorias nas quais nós vivemos nossas
vidas. É também uma transformação de nossas habilidades, as práticas e ações pelas quais
vivemos nossas vidas. O que um ser humano é capaz de fazer? Quem você é capaz de ser? Você
sabe? Quando alguém estuda história, encontra inumeráveis exemplos de pessoas que alcançaram
coisas incríveis. Estamos presos em um momento de crise histórica onde nós estamos sendo
chamados adiante para ser o que nascemos para se tornar – agentes do processo pelo qual o
Universo se transforma, alcançando assim sua própria salvação.

Todo Projeto Gaia, não importa se grande ou pequeno, tem seu potencial transformador.

CONSTRUINDO A ESTRUTURA PARA SEU PROJETO

Central para nossa concepção de mundo está um modelo de poder. Desde a era dos antigos
gregos, nós no ocidente acreditamos que aquelas coisas que são reais tem uma capacidade de
resistir. Que o que é efêmero é visto como não real, algo que é apenas transitório. Na física
clássica, por exemplo, objetos materiais eram reais. Forças foram aplicadas a esses objetos para
leva-los a mudarem de posição. A aceleração produzida foi alcançada através da aplicação de
força, e energia foi vista como a capacidade de fazer esse trabalho. Gregory Bateson, o pensador
dos sistemas argumentou

"O mito do poder é, é claro, um mito muito poderoso; e provavelmente a maioria
das pessoas nesse mundo mais ou menos acreditam nele... Mas ainda é uma loucura
epistemológica e leva inevitavelmente a todo tipo de desastre... Se continuarmos a operar
em termos de um dualismo Cartesiano da mente versus matéria, nós também veremos
provavelmente o mundo em termos de Deus versus homem; elite versus pessoas; raça
escolhida versus as outras; nação contra nação e homem versus ambiente. É duvidoso se
uma espécie tendo uma tecnologia avançada e esta estranha forma de olhar o mundo possa
resistir ...

O todo do nosso pensamento sobre quem somos e o que outras pessoas são tem que ser
reestruturado. Isso não é engraçado, e eu não sei quanto tempo nós teremos para faze-lo.
Se continuarmos a funcionar nas premissas que foram moda durante a era Pré-cibernética,
e que foram especialmente delineadas durante a Revolução Industrial, que parece ter
validado a unidade Darwiniana de sobrevivência, nós podemos ter 20 ou 30 anos antes da
lógica reductio ad absurdum de nossas antigas posições nos destruírem. Ninguém sabe
quanto tempo temos, sob o atual sistema, antes que algum desastre nos atinja, mais grave
do que a destruição de qualquer grupo de nações. A tarefa mais importante hoje é, talvez,
a de aprender a pensar de um jeito diferente.”

As duas dimensões separadas apresentadas acima, quando combinadas, nos fornece o tipo de
conexão cibernética entre a situação do mundo e com nós o vemos. Por exemplo, pegue as
duas dimensões separadas e as sobreponha, uma em cima da outra. Você ganha um modelo
sintético de empoderamento que irá ajudá-lo a tornar qualquer projeto que você faça de muito
sucesso.

Esse é o começo da jornada que fará você transformar seu sonho em realidade. Sonhos você
segura na palma de suas mãos. Dragon Dreaming ajudará na mudança do seu poder para
transformar este sonho em realidade.